29 de setembro de 2005

Fotografos: Stanley Kubric

Stanley Kubrick
Isabel Coutinho in Publica 2005/05/29

Já existiam as biografias não autorizadas, o livro "Stanley Kubrick: a Life in Pictures" publicado pela viúva, o documentário "Stanley Kubrick: Uma Vida em Filmes" do seu cunhado Jan Harlan e surge agora, seis anos após a sua morte, "The Stanley Kubrick Archives", uma obra monumental inteiramente dedicada ao trabalho do cineasta, editada por Alison Castle, publicada pela Taschen em inglês, recentemente chegado às bancas portuguesas.
Depois da morte de Stanley Kubrick, a 7 de Março de 1999, a família contratou um arquivista para organizar o gigantesco espólio que o cineasta possuía na sua casa em St. Albans, Hertfordshire. Foram necessárias 15 horas de trabalho por dia, durante oito meses, para que tudo estivesse catalogado. A sua mulher, Christiane Kubrick, confirmou ao jornal "The Observer" que Stanley Kubrick não deitava nada fora, mas negou que ele fosse um coleccionador obsessivo. O que se passava, explicou, é que, quando Stanley acabava um filme, as pessoas que faziam parte da equipa lhe telefonavam: "Temos aqui imenso material!" Stanley respondia: "Enviem-no para cá que eu organizo." Mas nunca chegava a fazê-lo, porque na sua casa o que não faltava era espaço. "Não precisava de organizar o que iam mandando - cá em casa existem muitos quartos -, bastava-lhe arrumá-lo num sítio seguro e esquecer-se que estava ali", lembra a viúva.
Alison Castle, a organizadora do livro, acedeu aos arquivos e descreve, no prefácio, o processo de criação desta obra como uma outra "Odisseia". "Foram dois anos de viagens através do tempo e do espaço até se chegar ao centro do universo de Stanley Kubrick."
Mas não se imagine que são desvendados pormenores muito íntimos da vida de Kubrick. Foram muito cuidadosos. Christiane chegou a dizer que o livro foi feito como se estivessem a espreitar por cima do ombro de Kubrick, quando ele estava a trabalhar. É um retrato da sua organização e do seu método de trabalho: toda a preparação da rodagem, todos os procedimentos técnicos, toda a pós-produção. E é isso que o torna um objecto fantástico tanto para os fãs, como para quem trabalha em cinema.
Nos arquivos Alison Casle encontrou não só papéis com notas escritas a toda a pressa, como fotografias feitas pelo realizador durante a rodagem dos seus filmes (Kubrick começou como fotógrafo profissional da revista "Look", chegou a vir a Portugal em trabalho, mas essas fotos não estão no livro).
Alison andou de lupa a ver negativos e seleccionou imagens que nunca tinham sido impressas. Encontrou referências a cenas que nunca chegaram a ser filmadas e entre as fotografias descobriu sequências que foram abandonadas. Encontrou pistas sobre o seu processo mental, mas também uma paixão por diversos tipos de canetas, máquinas de escrever, máquinas fotográficas.
Há uma fotografia da rodagem de "Spartacus" impressionante que mostra uma das técnicas que utilizou para identificar os inúmeros figurantes numa cena em que estavam moribundos. Kubrick colocou cartazes com números em cada um deles, para que quando estivesse a filmar pudesse chamar determinado número e dar-lhe as ordens, para que não se levantassem todos os figurantes ao mesmo tempo. Acabou por filmar tudo em estúdio, porque a técnica resultava, mas o resultado no ecrã não era bom.
Na parte dedicada ao "Lolita" está a reprodução do telegrama que Nabokov lhe enviou na segunda vez em que o realizador insistiu para que escrevesse o guião: "I might consider it. Letter follows." E também a carta de James B. Harris com as sugestões de cortes dos censores.
Outras imagens extraordinárias são as da preparação e da rodagem de uma cena de luta com tartes entre russos e americanos na Sala da Guerra para o filme "Dr. Estranhoamor" que demorou cinco dias a filmar e acabou por ser cortada depois de Kubrick ter feito a primeira projecção com público por considerar que o tom não era coerente com o resto do filme. E na preparação de "Barry Lyndon" vemos o processo de construção das câmaras com as objectivas preparadas para filmar as cenas de interiores só com a luz das velas. E mais tarde, em 1976, a carta e a foto que Jan Harlan mandou a Kubrick para o informar da invenção do "steadycam", um sistema de câmara à mão inventado por Garrett Brown, que na altura ainda era um protótipo, e que o realizador utilizou pela primeira vez em "Shining" e em todos os seus filmes seguintes. Em "2001" podemos ver como foram construídos os cenários, as máscaras dos primatas, como foi filmada a nave e como imaginaram o que seriam as imagens da Terra vista do espaço.
Para que se perceba o que nos mostra o livro e como foi possível termos agora acessível tanto material sobre este homem, genial e visionário no seu trabalho, basta contar um pouco da história de um projecto que Stanley Kubrick tinha e que nunca chegou a realizar. Trata-se do filme sobre a vida de Napoleão. Em 1968, o jornal francês "L"Express" noticiou que haviam sido enviados para casa do cineasta centenas de livros sobre a vida do imperador francês. Kubrick pensou fazer uma série, mais tarde quis fazer um filme, porque a personagem de Napoleão o fascinava. "A sua vida foi descrita como um poema épico de acção. A sua vida sexual era digna de Arthur Schnitzler", explicou. Além de ter lido todas as biografias que existiam sobre Bonaparte, Kubrick organizou um arquivo sobre os mais variados temas dedicados ao imperador: desde o que gostava de comer até ao tempo que fazia, se chovia, nevava ou estava sol, no dia de determinada batalha. O cineasta teve reuniões com Félix Markham, um professor de Oxford considerado um dos melhores especialistas mundiais na figura histórica, e comprou-lhe os direitos da biografia que publicou. A partir dela escreveu o argumento do filme. Ainda em 1968 enviou um assistente de produção a todos os lugares associados à vida de Napoleão para tirar fotografias (teve permissão do ministro da Cultura francês da altura) e essas fotos foram utilizadas pelos decoradores como fonte de inspiração para os desenhos dos cenários. Mais tarde, Kubrick contratou 20 estudantes universitários de Oxford para lhe resumirem as inúmeras biografias de Napoleão em fichas para as poder utilizar como referência rápida. Criaram um arquivo biográfico com as 50 figuras históricas principais do filme e anotaram nuns cartões os feitos mais importantes da vida de cada uma delas. Apesar de em 1968 a MGM ter anunciado que ia rodar "Napoleão", um ano depois a produtora desistiu do projecto, talvez porque até para um filme de Kubrick era demasiado ambicioso. Mas seria provavelmente mais uma obra prima.
"As reacções à arte são sempre diferentes, porque são sempre profundamente pessoais... O filme transforma-se naquilo que o espectador veja nele", afirmou Stanley Kubrick numa entrevista a propósito do "2001- Odisseia no Espaço". O mesmo se passa com este "The Stanley Kubrick Archives", que é uma verdadeira obra de arte.

20 de setembro de 2005

A mulher islamica


foto Dylan Martinez/Reuters

14 de setembro de 2005

Avô e neto

O protótipo da primeira máquina digital do mundo desenvolvida pelo engenheiro da Kodak Steven J. Sasson, em 1975, junto do último modelo da marca, o EasyShare One. Logo depois de ter saído da universidade, Sasson passou dez meses seguidos na Eastman Kodak a desenvolver um aparelho que fosse capaz de registar imagens digitalmente. Foto: David Duprey/AP



via Público online